23 DE ABRIL DIA DO ESCOTEIRO


Recebemos o Texto abaixo, carinhosamente escrito por nossa Irmã Escoteira Daniele Sampaio, para esse dia tão especial.
Obrigado "Dane" por sua valorosa colaboração, por seu exemplo, por compartilhar com todos um pequeno grande pedaço de vc!

As lições de um acampamento

A imagem do escoteiro parece estar eternizada no momento do acampamento, tudo isso porque de fato é lá que tudo ocorre, temos o universo do escotismo resumido nessa atividade. E é justo se pararmos para analisar cada detalhe desse momento.
Basta perguntar: tem algum escoteiro que não se lembre do seu primeiro acampamento? O acampamento do escoteiro começa no dia em que o chefe combina que vai fazer um. No dia em que ele dar missões para arrecadar material para a atividade e você tem que combinar com a Patrulha como vai fazer isso. É incrível, mas um grupo de adolescentes, quase crianças, conseguem diante de tantas diferenças se organizar, encher a paciência dos pais implorando a mãe por uma panela velha pra doar pra patrulha, aguenta abuso dos comerciantes por um 5 reais que seja quando é preciso patrocínio, sofre gozação da cara dos outros amigos quando você conta pra que está fazendo tudo isso, e ainda assim consegue tudo que o chefe pediu. Depois disso você já aprende que quando quiser algo com muito amor, ninguém conseguirá impedir. Se essa experiência consegue ter um ensinamento tão grande em seu planejamento, então já dá para ter noção do impacto que o momento em si vai causar em sua vida para sempre?  
O frio na barriga nos dois dias antes é uma sensação de ansiedade que jamais sentirá igual. É uma ansiedade tão própria de um acampamento escoteiro, que é como se todos os contos de fadas fossem reais, pelo menos dentro de você, porque de fato você sente as borboletas girando ao seu redor, e de repente os pássaros falam um idioma que se entende. E agora se perguntarem a alguém em que outro momento de suas vidas poderão sentir isso, ou pergunte a si próprio, vai ser realmente difícil lembrar, pois são sintomas próprios do que faz o seu primeiro acampamento escoteiro.
O medo de que sua mãe não assine a autorização e do que você está disposto a fazer para que essa hipótese sequer passe pela cabeça dela? Isso aí é outro sintoma do que um acampamento escoteiro pode fazer com sua alma, pois até outra pessoa parece ser! Torna-se um bom filho, é gentil, arruma a cama e não ousa pensar em agir mal na escola, se torna uma pessoa tão polida que só falta a auréola para dizer que é o filho que toda mãe pediu a Deus.
No dia do acampamento, depois de uma noite em claro esperando dar hora de ir correndo encontrar o grupo e partir pro local, você não mais se questiona, tudo que passa pela sua mente é aventura, alegria, emoção. E é de fato tudo que lhe aguarda, esse dia ficará na sua memória para sempre e ainda não sabe disso, só vai parar para pensar sobre isso uns 10 anos depois, mas esse momento mágico entrará para sua história como poucos são capazes.
O melhor acampamento é o que ainda se não sabe como é o local. O local ideal para um bom acampamento é aquele que não é tão perto que dê para se ouvir buzina de carros, mas nem tão longe que se precise ir de carro, pois o bom do acampamento é a caminhada.  Como o acampamento se mostra mais interessante a cada passo sacrificado com o suor no rosto e a sua mochila com coisas que não vai precisar e mesmo assim colocou dentro e o peso parece sugar suas costas. Quando a entrada se aponta e você já está todo alegre o chefe olha pra você com uma cara de quem está realmente se divertindo com o seu sofrimento e diz: "ainda não chegou, mas é benhaí". Você claro, sente uma leve raiva dentro de suas veias, mas tudo efeito do cansaço, segue feliz e com uma contraditória paixão por aquele chefe que parece tão velho e mesmo assim tão forte. "Quando crescer, quero ser igual a ele", pensa.
Já no acampamento, depois de um dia inteiro cozinhando, montando barraca, ouvindo apitadas do chefe, finalmente um banho de rio irá renovar sua alma e quando está ficando bom, começa um sereno que em dois segundos transforma-se em tempestade, e então todos se lembram que a panela velha que pegou emprestado de sua mãe, não tinha tampa. Correndo para a cozinha improvisada com pedras e galhos, ao olhar aquele feijão com um caldo estranhamente transparente, e ainda assim com um desejo de comer acompanhado com mortadela e macarrão grudado, com uma leve crocãncia de areia que caiu desintencionalmente, isso não causa espanto e nem questiona sua lucidez, isso não é mais fome, isso é desejo de comer. Daqui a uns anos irá lembrar que em poucos momentos desejou algo tão verdadeiramente como desejou aquela comida contraditoriamente deliciosa.
No outro dia às 6 horas da manhã, depois de uma hora de sono quebrado enquanto estava na vigília, agüentando o cheiro dos gases de seus companheiros, o chefe apita insistentemente e feliz com o seu grupo vai cantar a música do alvorecer, quando  olha pro lado e tem umas 40 pessoas cantando em coro feliz aquela música é impossível não se contaminar e é ali onde se  nota como a motivação dos seus amigos é importante, aliás todo o acampamento gira em torno da força que os amigos tem sobre nós, tudo que “sofremos” até ali foi para está com eles e com aqueles chefes que uma hora parecem seus pais, outra hora seus irmãos e algumas talvez seus piores vilões, mas com certeza  seus amigos.
Naquele momento provavelmente não irá notar, mas daqui a uns anos quando se deparar com uma multidão ao seu redor, com a frieza da solidão que aquela multidão pode ti passar, irá lembrar do momento em que esteve diante de uma multidão de escoteiros, alguns talvez desconhecidos e ainda assim sentia-se estranhamente abrigado, podendo ousar chamá-los de irmãos mesmo sem saber o nome. Esse é um dos sentimentos mágicos que em nenhum outro meio que conhecemos, iremos sentir.
Depois, ao voltar pra casa com as roupas sujas, alguns arranhões talvez, e sem pensar na aparente insensatez de dormir em barracas por uns dias, com pessoas que mal se conhece, sem nenhum conforto, e com um desejo enorme de deitar em sua cama e dormir por uns quatro dias consecutivos, é que talvez possa pensar que se conseguisse passar esses quatro dias dormindo, ao acordar não teria história alguma para contar, momento nenhum para lembrar e ser feliz, e é quando pensamos nisso que já estamos sonhando com o próximo acampamento.
Trocar todo o "desconforto" de dormir fora de casa, comer comida ruim e dormir em locais desconhecidos, pelo aconchego de sua casa, é certamente a escolha mais racional, porém não se trata de racionalidade, trata-se de felicidade. Lembrar que tudo isso vem acompanhado de tantos ensinamentos, emoções e aventuras realmente impressionantes, faz pensar que ao passarmos mais um dia de conforto em casa, ele será o mesmo e sua alma não vai ter vivido nada disso, não terá memórias para contar pros netos e nem motivo para se deparar rindo a toa.
E aqui já não precisa mais tanto esforço para entender todas as lições de um acampamento, e porque toda uma vida escoteira pode ser resumida nesse momento, e porque esse momento trás consigo tantos ensinamentos e mensagens subliminares, que consegue desde seu planejamento até a última bandeira ser arriada, resumir tudo que passará em sua vida, tantas provações, tantos esforços e quantas mudanças de personalidade para conseguir o que se quer; tanta comida fria para engolir e ainda assim achar deliciosa, até o fim de suas vidas. Enfim. A alma vive em um eterno acampamento, até a ultima arriada de bandeira na Terra, quando finalmente poderá partir para um acampamento maior, “O Grande Acampamento”, nem sempre com tempo para ser planejado, nem sempre com chances para levar consigo tudo que se deseja, coisas até desnecessárias que sempre insistimos colocar na mochila, Este, como um verdadeiro acampamento, mas com certeza o mais misterioso, com aventuras inesperadas, desconhecidas e provavelmente emocionantes, como tem-se passado ao longo da existência.
Francisca Daniele Moreira Sampaio – IM Escoteiro
Outrora integrante do 7º GE/CE – Granja - CE

3 comentários:

André disse...

Parabéns Chefe Daniele por essa mensagem tão especial,lembrei-me de tudo que esse movimento fez parte de toda minha vida, como seria bom que tantos escoteiros que já participaram dos grupos escoteiros procuracem de alguma forma estar sempre ajudando estes para que mais pessoas possam vivenciar este movimento,mas só o futuro dirá, sou muito feliz por ser um escoteiro, e mais ainda por ter proporcionado a algumas pessoas a oportunidade de serem escoteiros sendo o chefe deles, talvez muitos deles nem se importam mais, mas fico feliz, por feito o meu melhor como um chefe escoteiro, não perfeito, mas sempre procurando melhorar,parabéns a todos os escoteiros do mundo, e em especial aos meus chefes escoteiros quando era membro juvenil e as amizades construidas quando me tornei chefe,Sempre Alerta!

Anônimo disse...

Chefe Daniele Sampaio;
Um escoteiro não consegue ler este texto sem se emocionar, pois ele trata de nossa realidade e é peculiar a cada um de nós que um dia acampamos à moda antiga.
Há! meu primeiro acampamento...
Saudades daquele tempo bom.
Chefe Batista.

Liduina disse...

Ao ler o texto eu me transportei ao início do meu caminho no ME..cada palavra, cada detalhe...a Dane conseguiu descrever muito bem. E é isso que todo escoteiro deve vivenciar quando vai acampar. Infelizmente algumas pessoas não gostam de ler ou tem preguiça, e deixam de aprender e de fazer grandes viagens como esta que acabei de fazer lendo esse texto. Saps